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Vazio.


São 22:09 da noite, e eu não sinto nada. Finjo ser quem eu não sou a algum tempo já, apenas para me misturar com os meus amigos, tentar viver do jeito que eles vivem pra tentar sentir o que eles sentem. Apenas decepção, não creio que nasci pra isso, apenas ficar numa zona segura da minha vida, ser tímida com aqueles que não conheço, ter amores platônicos um atrás do outro. Tenho certeza que aos meus 10/12 anos eu era assim, tímida demais pra falar qualquer coisa com alguém, e essa parte da minha vida me influencia até hoje, pois sempre que penso em falar algo acho que vou incomodar alguém.

São 22:14 da noite, e eu não sinto nada. Tentativa após tentativa de amor, amores platônicos, amores por famosos, amores por amigos, tudo que senti foi desconforto e pânico. Passava noites em claro pensando naquelas pessoas que gostava, hoje eu prefiro dormir cedo. Não curto ter pânico simplesmente por estar por perto de alguém que gosto, não gosto da sensação de não conseguir ser racional perto dessa pessoa. Sinto como se eu estivesse fora de controle, mas talvez seja exatamente isso que eu precise.

São 22:18, e eu não sinto nada. Perco cada vez mais meu interesse por estudos, não consigo me concentrar e já é meio de ano, perto do final. Não tenho coragem nem de levantar direito, imagina de pegar um livro de matemática ou de química e tentar entender o assunto. Eu faço o que posso, não uso todo o meu potencial simplesmente por que não gosto de gasta-lo com algo que não gosto de fazer, eu sei que sou capaz. Tenho um bloqueio enorme olhando para um exercício de exatas.

São 22:21, e eu não sinto nada. Vivo num mundo diferente, em outro lugar bem distante, dentro da minha cabeça, onde eu sou quem eu realmente sou quem eu sei que sou, mesmo que eu não aja como mim mesma, eu me conheço o suficiente para saber o que eu faria sem as influencias das pessoas ao meu redor.

São 22:23 e eu não sinto nada. Odeio o capitalismo, odeio as industrias, não suporto o Jornal Nacional.

São 22:24, e eu não sinto nada. Não sei, queria estar sozinha 99% do tempo, mas ainda quero receber atenção daqueles que importam. O que não faz sentido, pois eu daria basicamente tudo o que eu tenho, o que não é muito mas é o que eu tenho, para sair desse lugar e morar num local diferente, onde ninguém me conhece e onde eu posso ser eu mesma sem me importar com os olhares de familiares em cada coisa que eu faço, como se minha vida importasse pra eles. A vida de um familiar só vai importar quando ele faz algo que você e sua opinião não concordam, mas não é da conta de ninguém pra falar a verdade.

São 22:29, e eu queria fugir. Ir para a Itália, fazer um tour por Roma, comer pizza e estudar italiano. Ir para a França e entrar num curso de Moda, arrumar um apartamento e um gato para me fazer companhia. Queria ir para Bali apenas para ficar longe de qualquer responsabilidade que eu poderia ter, desligar meu celular, sentir o mar e a terra, meditar na praia, ir para os luaus. Queria ir para o Canadá e entrar numa faculdade de História, apenas para ensinar em escolas a verdadeira história do mundo, com fatos verdadeiros, não estórias inventadas e influenciadas por religião ou por poder politico.

São 22:34, e eu não faço ideia do que eu quero para fazer pelo resto da minha vida. Ao chegar no Ensino Médio eu me senti como se tivesse chegando ao final de uma rua, e pegando uma ponte para um mundo completamente diferente, em apenas 3 anos. Tenho muitos sonhos que posso seguir atrás, porém é como se eu pudesse apenas escolher um deles, junto com a inscrição da faculdade. Queria fazer pesquisa de filosofia, sociologia, história depois de entrar na faculdade, queria trabalhar com moda, e com jornalismo, talvez ao mesmo tempo. Queria ser diretora de cinema, fazer filmes de ficção cientifica, contratar os melhores no ramo de câmera, som e cores, e chegar a uma obra prima.

São 22:40, e eu sempre quis trabalhar com música. Fazer letras com experiências da minha vida, colocar meu sentimento propriamente numa melodia de um jeito que ainda não foi alcançado pelo ser humano. Tocar o coração das pessoas pela música, mesmo que elas não saibam que fui eu quem escrevi, conseguir sentir que as letras foram bem colocadas com a melodia, criando uma perfeita sincronização, uma dança de melodias que fazem aqueles que a ouvem derreterem e se sentirem na minha cabeça. Queria fazer as pessoas sentirem a minha música do jeito que eu me senti a escreve-la e produzi-la.

São 22:45, e eu estou muito doente para dançar. Muito fraca, a garganta doí, o sono faz meus olhos ficarem a cada minuto mais pesados, mas eu ainda quero dançar como se não ouve-se amanhã. Aprender coreografias de k-pop virou meu novo passatempo, conseguir achar uma música que me leva com ela, que não é completamente feita para o marketing patronizado pelo capitalismo, realmente me agrada a alma.

São 22:48, e eu não vou para a aula amanhã.

São 22:49, eu apenas queria entender. Por que as pessoas tímidas tem tanto medo de falar? Por que as pessoas extrovertidas gostam tanto de conversar o tempo inteiro? Por que as pessoas apaixonadas ficam irracionais, na maioria dos casos? Por que eu tenho tanto pânico em não controlar a mim mesma?

São 22:52, e eu acho que entendo. Se eu não me controlar, eu vou contra tudo que eu me auto-treinei por todos os poucos anos da minha vida, influenciada pelo que a escola, meus pais, minha antiga crença sempre me ensinaram. Se você não se controlar, você vai se perder, e se você se perder nesse mundo, não tem volta. Uma pessoa perdida é uma pessoa sem futuro, que faz tudo por prazer, que não se encaixa nesse mundo de dinheiro e esforço sem necessidade.

São 22:56 da noite do dia 07 de Agosto do ano de 2016, e cá estou eu, fazendo tudo como fui ensinada a minha vida toda, me segurando a aqueles que eu conheço com medo de que eles sumam depois de algum tempo, com medo de sair simplesmente por ser uma garota num país perigoso mesmo que eu provavelmente não vá ser assaltada, principalmente por que eu só saio em grupos. Cá estou eu, não fazendo nada maluco, ficando em casa nos finais de semana, sendo uma boa filha, e apesar de toda essa influência forte na minha vida, eu não me sinto feliz. Eu acabei perdida também, mas não foi minha culpa, não foi culpa de ninguém a não ser de todas essas situações que foram moldando minha máscara durante esses anos de escola onde tudo que importa é a imagem que você tem. Se você chama o minimo de atenção pra si mesma, outras pessoas vão começar a lhe julgar, sem lhe conhecer vão lhe chamar de puta, porque você começou a sair com aquela garota que fulaninha gostava, porque você ficou com aquela pessoa que não conhecia numa festa, porque você brigou com aquela outra pessoa no meio da aula no meio de um momento ruim da sua vida, porque você ignorou aquela mensagem daquele cara que quer sair com você. Todas essas coisas lhe fazem uma pessoa ruim de acordo com a sociedade; pra falar a verdade sempre que eu tive um desses momentos de "pessoa ruim" eu nunca liguei, eu sabia o porque eu tinha feito aquilo, e se eu estivesse errada eu pedia desculpas. Mas o que me realmente irrita é que mesmo sabendo que não me afeta nenhum pouco eu ainda finjo, eu ainda tento ser uma "pessoa boa" para me misturar no meio da multidão e não chamar atenção, mesmo que eu goste de recebe-la, dependendo da situação.

São 23:09, e eu estou cansada. Conheço muito bem a mim mesma, melhor do que qualquer pessoa que me conheça bem, e sei do meu potencial, e sei que poderia estar aproveitando mais minha vida do jeito que eu quero. Não consigo, como se fosse a coisa mais difícil do mundo sair da zona de segurança, mesmo que eu já conheça o lado de fora, passei tanto tempo do lado de dentro que já criei correntes que não me deixam sair, na minha própria cabeça.

São 23:13, e eu decidi me expandir. Como um universo que nunca para de crescer e criar imagens magnificas dentro de si mesmo, como uma tela em branco nas mãos de um pintor talentoso, como o Word vazio nas mãos de um escritor.

São 23:16, e eu acabei de ter uma ideia linda para a minha primeira tatuagem.

Agora são 23:18, e eu decidi ser uma pessoa ruim.

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